BERNARDO SOUSA E O FUTURO
Quero voltar a ser campeão nacional… e vou ser campeão!
Bernardo Sousa reconhece que esteve longe de alcançar os resultados que ambicionava no ano que voltou, com garra e muita energia, para discutir o CPR. Sem fugir à realidade do seu trajeto nas oito provas da temporada, faz uma autocrítica que revela lucidez e, acima de tudo, o caminho a seguir para, corrigindo erros, alcançar aquilo que mais ambiciona: juntar um novo título de campeão absoluto de ralis ao de 2010, quando tinha 23 anos.
– Depois de um início de época acidentado [Rali Serras de Fafe e Rali do Algarve], um final também acidentado [Rali da Água e Rali Vidreiro], com um sabor agridoce [Rali de Castelo Branco] pelo meio…
“Fiz uma época lastimável, muito aquém daquilo que eram as minhas expetativas neste regresso ao CPR a tempo inteiro. De qualquer modo, e independentemente dos registos menos positivos, ficou claro que a velocidade está lá e apenas me falta a consistência de outros tempos que surgirá com um número crescente de participações assíduas. Portanto, direi que os indicadores são positivos e há que extrair a parte boa daquilo que foi, ao fim de seis ou sete anos, disputar todas as provas do campeonato”.
Tive momentos de condução mais temerária e menos controlada, o que me levou a cometer erros, com algumas faltas de sorte pelo meio
– Foi a ansiedade que venceu a determinação do piloto de querer mostrar serviço, em termos de resultados?
“Não foi a ansiedade, mas sim a falta de conhecimento do terreno e às vezes, nessas circunstâncias, andei um pouco mais depressa, sem tanto controlo ou segurança, do que devia. Por outras palavras, os nossos adversários conhecem muito bem o Campeonato de Portugal de Ralis a nível de troços, ao contrário de nós, embora em algumas ocasiões chegássemos a andar ao nível deles e até à frente. Tive, claramente, momentos de condução mais temerária e menos controlada, o que me levou a cometer erros, com algumas faltas de sorte pelo meio. Portanto, não direi que foi a ansiedade ou a exigência de resultados, mas sim a preocupação e o ímpeto de querer mostrar as marcas e os patrocínios para obter retorno publicitário. Isso foi alcançado, a parte dos resultados ainda não está em cima da mesa, mas é uma coisa que vem da minha essência de piloto profissional. Se não és ambicioso ou se finges que não és ambicioso e não queres ganhar ou ser o melhor, então andas ali a fazer turismo…”
– O Bernardo Sousa ainda não atingiu a maturidade necessária como piloto para ser candidato ao título?
“Se eu fui campeão nacional de ralis com 23 anos, em que a pressão era muito superior, porque até aí nunca tinha sido ‘ninguém’, havia apenas reconhecimento de que eu seria um grande talento, mas em termos de campeonatos, porque resultados individuais já tinha alguns, eu ainda nada tinha alcançado, mas se nessa altura eu consegui, a maturidade já estava lá. É evidente que a minha vida mudou muito nestes 15 anos de corridas, tive altos e baixos, e hoje em dia claro que não me falta maturidade. Toda a gente que anda depressa bate, agora a parte emocional poderá não ter estado ao meu mais alto nível esta época. Como disse, a minha vida mudou muito, agora não sou apenas piloto, mas também empresário e uma figura pública com muitas responsabilidades sociais. Hoje há mais exigência da minha parte do que os próprios resultados desportivos”.
Eu necessitava, reconheço agora, de um navegador que compensasse um pouco a minha falta de ritmo
– Qual a autocrítica podes fazer no fim do campeonato?
“Começo pela minha escolha de início do campeonato, que se calhar não correu da melhor forma. Fui demasiado otimista ao considerar que poderia ter uma pessoa com menos experiência como co-piloto, mas também não foi um início de campeonato fácil com aqueles ralis [Fafe e Algarve]. Portanto, o talento da Inês Veiga não pode ser colocado em causa, embora eu precisasse de um navegador que acrescentasse algo mais a um piloto, como eu, que tinha estado fora do ativo algum tempo. Eu necessitava, reconheço agora, de um navegador que compensasse um pouco a minha falta de ritmo. Por outro lado, se calhar, depois de Castelo Branco eu devia ter pensado apenas e só em terminar as provas e ser um bocadinho mais cauteloso, ‘fingindo’ que estava fora das contas do campeonato. Andaria ali terceiro/quarto/quinto ou algo do género e ficava com o excelente resultado de Castelo Branco e ninguém me poderia apontar o dedo ‘lá está ele a bater’. Contudo, essa não é a minha essência. Eu vou querer sempre ganhar, mas também concordo que tenho de pensar, tendo em conta que há um campeonato para vencer, ser imperioso andar um bocadinho menos. Isso está agora bem claro na minha consciência e de futuro terei que evitar cometer os mesmos erros”.
O ‘Big Brother’ trouxe-me muita visibilidade, mas também muita responsabilidade e por vezes é difícil de gerir tudo isso e estar 100 por cento focado no trabalho
– A popularidade resultante do “Big Brother” foi uma faca de dois gumes para o Bernardo Sousa nos ralis?
“Claramente, eu até diria… uma faca de três gumes, porque a popularidade trás mais visibilidade, é indiscutível, mais também inveja dos meus colegas que acham que eu tenho demasiada atenção dos Media, embora esqueçam que é bom que se fale mais de ralis e se conquistem mais adeptos. Essa é a parte triste, de ter alguns adversários ou colegas de trabalho que não percebem isso, mas espero que um dia aprendam. Depois, na parte desportiva, há muitas pessoas que só agora começaram a ver ralis, embora não entendam nada do assunto e quando começam a perceber alguma coisa começaram a ‘exigir’ mais ou menos resultados e sem ter a noção se somos bons ou maus, se fizemos uma boa ‘performance’. Às vezes um piloto não ganha, mas tem um ótimo desempenho. Por último, há uma responsabilidade de incutir nas pessoas a parte da segurança e também de não cometer erros em termos sociais quando se fala com os Media ou mesmo o público ou os fans. O ‘Big Brother’ trouxe-me muita visibilidade, mas também muita responsabilidade e por vezes é difícil de gerir tudo isso e estar 100 por cento focado no trabalho. O resto, que são os fans, as marcas, as ativações de patrocínios, o papel de influencer também conta e eu tenho que estar ali um pouco na balança, dispersando-me para um lado e outro.”
Agora já terei uma base de trabalho que esta época não tinha e posso chegar a casa, pegar nos vídeos das provas deste ano e fazer o trabalho de casa
– A época de 2024 já está a ser preparada? E com que Bernardo Sousa se pode contar?
“Já tínhamos começado a trabalhar para a próxima época, agora vamos ter algumas reuniões, designadamente com o José Pedro Fontes, que é quem neste momento faz a gestão desse processo. O objetivo será repetir o CPR em Rally2, quanto a marcas está tudo ainda em aberto. Acredito que alguns lugares possam estar fechados, a não ser que os pilotos não queiram ou haja outras estratégias. Em suma, não sei em que carro/marca irei correr, embora qualquer um deles, Citroen, Hyundai ou Skoda, seja competitivo. Eu quero voltar a ser campeão e vou ser campeão, mas estou consciente que é necessário preparar-me melhor fisicamente e também no plano mental. Agora já terei uma base de trabalho e posso chegar a casa e pegar nos vídeos das provas que disputei este ano e evoluir uma série de pormenores, fazendo o trabalho de casa que esta época não tinha. Acredito que 2024 poderá ser um ano muito bom para mim”.