FORA DO TROÇO com AUGUSTO RAMIRO (ARC SPORT)
“NÃO TEMOS EXCLUSIVIDADE SKODA E SE UM PILOTO NOSSO OPTAR POR HYUNDAI OU TOYOTA CÁ ESTAREMOS PARA NOVO PROJETO”
Fundada há 22 anos, e somando mais de quatro dezenas de diferentes títulos [de campeões], a ARC Sport continua a ser uma referência no desporto automóvel nacional, não só pelo seu ecletismo, mas também pelo conjunto de resultados que já conquistou, tanto a nível interno como no plano internacional. Empenhada e vitoriosa em várias frentes (ralis, todo-o-terreno e montanha) na época finda, esteve, no caso específico de ralis, desde o primeiro momento e até ao fim, na discussão do CPR, por intermédio da dupla Miguel Correia/Jorge Carvalho (Skoda Fabia Evo Rally2), que terminou o ano como vice-campeã.
Na hora de olhar para trás e quando questionado sobre o que terá faltado ao jovem piloto de Braga para se sagrar campeão, o manager da equipa de Aguiar da Beira retorquiu: “Eu recordo que, para todos os efeitos, o Miguel Correia foi o piloto que mais pontos amealhou durante a época. Claro que era necessário excluir alguns resultados, como estava definido desde o início, em termos de regulamento, mas eu acho que o traquejo do Miguel era francamente menor face ao dos restantes três pilotos que estiveram na discussão do título. Ele tinha menos maturidade e menos anos de ralis, muito embora também tivesse sofrido pequenos percalços ao longo de época que lhe fizeram perder pontos aqui e ali, os quais, somados, se calhar seriam suficientes para ser campeão. De qualquer modo, não quero falar muito disso, porque são coisas do passado e o nosso foco, agora, é o futuro e começar a preparar já 2024”.
Ricardo Moura, Adruzilo Lopes, Bruno Magalhães, Ricardo Teodósio, Miguel Correia, Pedro Almeida, Pedro Meireles, Joaquim Alves, Paulo Neto, Manuel Inácio, João Silva, Rui Madeira, Miguel Campos, Vítor Lopes, Alexandre Camacho e Rúben Rodrigues, entre muitos outros, são pilotos do universo da ARC Sport, uma equipa que até já “exportou” dois jovens engenheiros para o WRC. Rui Soares, também um filho da terra (Aguiar da Beira), foi o primeiro a lançar-se na alta roda dos ralis, primeiro na equipa oficial da Hyundai, para depois rumar à da Toyota, na qual é hoje o engenheiro do GR Yaris Rally1 do galês Elfyn Evans. Bernardo Fernandes é outro dos técnicos que integrou as fileiras da ARC antes de ingressar na M Sport, sendo o engenheiro do Ford Fiesta WRC de Sebastien Ogier quando este se sagrou campeão em 2017 e 2018.
Quando se fala no futuro, que é como quem diz a próxima época da ARC Sport, Augusto Ramiro adianta que continua à espera que a Skoda Motorsport lhe disponibilize o novo Fabia RS. Quanto ao resto…
“Em 2024 vamos continuar com o Skoda Fabia, embora seja bem claro que a ARC não trabalha apenas com esses veículos. A tendência dos últimos anos tem sido essa, mas tal não significa que não possamos fazê-lo com outra marca. Não temos exclusividade com ninguém, embora o Skoda Fabia seja fiável e competitivo e só por isso os nossos pilotos o têm escolhido, mas se nos aparecer alguém que opte por Toyota ou Hyundai, cá estaremos para um novo projeto”.
Se o Augusto Ramiro não fosse manager da ARC, que outra carreira desportiva poderia ter seguido?
“Eu creio que seria sempre algo ligado ao desporto motorizado, devido à minha paixão pela mecânica e pela adrenalina da competição. É também uma paixão da família, portanto seria uma modalidade que tivesse a ver com mecânica. Agora, sei lá, poderia ir para uma vertente um pouco mais tranquila, como o golfe. Como a idade também está a caminhar para aí, provavelmente seria essa a opção…”
A situação mais insólita aconteceu em 2018, quando perdemos o Rali do Chipre por seis décimas de segundo
Qual a situação mais curiosa e insólita com que já se deparou no decurso de um rali?
“Aconteceu no Europeu, em 2018, quando perdemos o Rali do Chipre por seis décimas de segundo. Na última classificativa, e quando era líder destacado, o Bruno Magalhães foi obrigado a parar, devido a uma situação insólita, pois o Nasser Al-Attiyah sofrera um furo e quando regressou à estrada não reparou que ele [Bruno] vinha atrás, obrigando-o a travar a perder bastante tempo. Resultado: o Bruno viu a vitória fugir-lhe por seis décimas de segundo. Para nós, teve um significado um pouco mais especial, porque vínhamos de uma vitória no Acrópole, um rali que todas as equipas e pilotos gostam de vencer. Triunfar na Grécia e logo a seguir no Chipre teria sido um marco importantíssimo não só para a ARC como para a carreira do Bruno. Custa perder assim, mas são contingências que fazem parte do desporto”.
Há algum piloto do WRC que seja uma inspiração? Quantas vezes visionou vídeos dele?
“Não tenho dúvidas: Sebastien Loeb. Para mim, é o suprassumo, o piloto com quem me identifico, uma referência nos ralis ao mais alto nível. Haverá pilotos tão rápidos como ele, mas mais velozes não sei. Vi muitos vídeos deles em ação. Na altura em que eu seguia mais de perto os ralis do WRC, era o mais carismático e o que maior número de títulos conquistou ao longo da carreira: nove. Recordo alguns ralis em que ele sofria um percalço, como um furo ou até uma pequena saída de estrada e depois nem por isso deixava de vencer, revelando ser um sobredotado. A facilidade e descontração com que guia é, quanto a mim, um dos seus pontos fortes. Eu diria que o Loeb nasceu para ser piloto de ralis”.
Monte Carlo seria o rali em que eu gostaria de participar com a ARC, porque é um bocado atípico
Que prova do WRC mais o fascina? Sonha competir lá um dia?
“Monte Carlo é uma prova onde eu gostaria de trabalhar, embora a minha referência do WRC, desde miúdo, seja o Rali de Portugal. Monte Carlo seria o rali em que eu gostaria de participar com a ARC, porque é um bocado atípico. Falamos do rali em piso de asfalto que tem neve e gelo, várias nuances difíceis, mas que seriam um desafio”.
Em Portugal, e no CPR, qual é o seu rali de eleição e porquê?
“Todos os ralis do CPR me merecem respeito e direi que gosto de todos, mas há um pelo qual tenho carinho especial: o SATA Rali Açores. Trata-se de um rali de terra que eu também disputei enquanto piloto e de todos os que fiz foi, sem dúvida, o que mais gostei e mais aprecio. Isso deve-se também ao facto de já o ter ganho, no Europeu, com o Ricardo Moura e o Bruno Magalhães. Também não é indiferente a particularidade de me deslocar muitas vezes aos Açores ao longo dos anos e só com o Ricardo Moura já fui diversas vezes campeão regional e neste último ano a ARC ganhou o título com o Rúben Rodrigues. Portanto, há um carinho natural pelos Açores e pelos açorianos”.
Se me saísse o Euromilhões? Qualquer WRC atual, de preferência sem híbrido, me servia
Que tipo de situação nos ralis é que o irrita verdadeiramente?
“Quando, enquanto manager da ARC, perco por decisão de outrem ou por uma situação que está fora do nosso controlo, isso irrita-me profundamente. Poderia enumerar algumas situações, mas acho que não devo fazê-lo, porque se tratam de situações que já fazem parte do passado”.
Caso lhe saísse o Euromilhões, qual o carro de ralis que adquiria para a ARC e para se divertir de vez em quando?
“Eu costumo dizer que venha o diabo e escolha… Portanto, qualquer WRC atual, de preferência sem híbrido, me servia”.