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FORA DO TROÇO com Luís Ramalho

“O que mais me irrita é ver gente que organiza provas há tantos anos a cometer os mesmos erros”

No início do próximo mês de dezembro completa três décadas de atividade nos ralis, a maior parte dos quais como co-piloto. Luís Ramalho, uma das referências da atualidade na arte de bem navegar um piloto, neste caso concreto Armindo Araújo, coleciona três títulos de campeão absoluto [com Armindo Araújo], um de Grupo A [com Francisco Barros Leite] e ainda um no Todo-o-Terreno, numa época em que andou ao lado de diferentes pilotos, entre os quais Carlos Sousa e Miguel Barbosa.

Luís Ramalho, sem “filtros”, respondeu a múltiplas e distintas questões:

1 – Se não fosse co-piloto, que outra carreira desportiva poderia ter seguido?

Sinceramente, noutra modalidade fora do desporto automóvel não faço ideia. Nos ralis comecei como piloto com o meu irmão [Miguel Ramalho], sendo previamente combinado que quando acabasse o dinheiro que eu tinha disponível terminava aí a carreira. Tornei-me co-piloto por acaso, até porque eu nunca admitira sentar-me ao lado de alguém. Fiz um percurso ao contrário da esmagadora maioria das pessoas…

 

2 – Qual a situação mais curiosa e insólita com que já se deparou no decurso de um rali?

Eu tive sempre uma visão positivamente crítica em relação às provas. Tenho sofrido muitos dissabores ao longo da vida por dizer a quem de direito e na altura certa aquilo que penso. Os clubes não compreendem que essas críticas são uma ajuda para o futuro e não um ataque. Aos longo de 30 anos de carreira aconteceram muitas coisas e inúmeras situações, não é por acaso que na minha vida associativa, como presidente da Associação de Pilotos, somei mais inimigos do que amigos. É triste, mas é o que é a realidade.

“António Manuel e Miguel Ramalho foram a minha inspiração e uma referência”

 

3 – Há algum co-piloto do WRC que seja uma inspiração? Quantas vezes visionou vídeos dele?

Não, as duas pessoas que foram a minha inspiração e uma referência são o António Manuel Martins Teixeira e o Miguel Ramalho. Este último, meu irmão, é sempre o número um, o António por tudo o que me ensinou no início da minha carreira de piloto e depois também como co-piloto, tal como o Miguel, que me ajudou, também, imenso. Tenho pena que ainda hoje a experiência e o saber do António Manuel não sejam utilizados, pois ajudariam a resolver muitos problemas…

 

4 – Que prova do WRC mais o fascina? Sonha correr lá um dia?

Há duas que gostaria muito de fazer por razões diferentes: Suécia e Austrália ou Nova Zelândia, por serem tão especiais. Não acredito que seja fácil concretizar esse sonho, mas se a oportunidade surgisse nem hesitava…

“Ao fim de 30 anos, é difícil escolher um rali do CPR que seja melhor que os outros”

 

5 – Em Portugal e no CPR qual é o seu rali de eleição e porquê?

Acho que todas as provas do CPR têm caraterísticas próprias e com algumas coisas boas. Há cerca de 20 anos eu e o Pedro Barros fizemos um trabalho de análise para o AutoSport em que eu estava dentro e ele fora de cada uma das provas do campeonato e, curiosamente, as nossas opiniões resultavam opostas. Cada vez mais defendo a ideia de que a opinião de quem participa no rali deveria fazer parte do relatório final de uma prova, mas nem como presidente da APPA consegui que tal fosse concretizado. Para mim, não há um rali que se distinga dos restantes, porque todos eles têm coisas giras e interessantes. Ao fim de 30 anos, é difícil escolher um rali do CPR que seja melhor que os outros.

“Alpine A110, BMW M3 e Subaru WRX são os meus carros de eleição”

 

6 – Que tipo de situação nos ralis é que o irrita verdadeiramente?

Há muitas, a principal das quais é ver gente que organiza provas há tantos anos a cometer os mesmos erros. Essa é a situação que mais me irrita.

 

7 – Caso lhe saísse o Euromilhões, qual o carro de ralis [geração/Rally1] que adquiria para se divertir de vez em quando?

Tenho três carros de eleição: Alpine A 110 de Grupo 4, BMW M3 Prodrive e Subaru WRX Prodrive (2 portas). Por razões objetivas, o Alpine foi o carro com que, em Angola, tinha eu 10 anos, o meu primo Carlos Moura Pinheiro me foi buscar ao colégio e fez com ele vários ‘piões’ junto ao poste à beira de minha casa, o que recordo para sempre; o M3 porque o Marc Duez me deixava fascinado ao guiar daquela maneira no Rali de Portugal e eu aprendi a conduzir num carro de tração traseira. Por fim, o Subaru era o carro mais bonito que alguma vez foi concebido para os ralis. Portanto, se fosse bafejado com o Euromilhões eram essas as preciosidades que teria na garagem!