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Ucraniano Korzun contorna a guerra para vir a Portugal correr nas 2RM

É digno de registo o esforço e a paixão pelos ralis do ucraniano Anton Korzun, que esta época corre no Campeonato de Portugal 2RM (duas rodas motrizes), viajando desde o seu país há mais de um ano fustigado pela guerra e ao qual regressa, obrigatoriamente, após cada uma das provas. “Nós nunca temos a certeza se ele vai conseguir chegar cá em tempo útil para treinar e fazer o rali. Em Fafe, por exemplo, já não reconheceu as classificativas da segunda etapa…”, conta Filipe Barbosa, da Befast Motorsport, a empresa de Paços de Ferreira que presta assistência ao Peugeot 208 Rally4 da dupla ucraniana.

Curiosamente, o “coach” de Anton é… russo e figura bem conhecida do mundo dos ralis, nada menos que o bicampeão europeu (2018 e 2020) Alexey Lukyanuk, natural de Moscovo, mas agora a viver no Chipre. Foi ele, aliás, que programou o primeiro teste do ucraniano com o Peugeot 208 Rally4 da Befast antes de ele assumir o compromisso de disputar as oito provas do CPR 2RM.

“Porquê Portugal? Os meus amigos sempre me falaram bem dos preços, das belas classificativas de ralis e do bom ambiente neste país. Eu experimentei e, olhe, gosto bastante, da hospitalidade das pessoas, das provas. Sinto-me feliz”, explica o piloto Anton Korzun. Fora dos ralis é empresário e lidera a Binotel, da área do software e das tecnologias de informação.

“Claro que a minha empresa vai trabalhando na Ucrânia, às vezes com maiores dificuldades, devido aos efeitos da guerra, mas as pessoas também precisam de comunicar e, portanto, a vida não pode parar…”, esclarece o piloto-empresário, de 35 anos, que tem conseguido até agora as indispensáveis autorizações do governo para se ausentar temporariamente do país, sempre… com data de regresso marcada. Quando a Rússia invadiu a Ucrânia, em finais de fevereiro de 2022, Anton Korzun estava na Finlândia e nesse ano viu interrompido o ciclo de oito épocas consecutivas a correr no campeonato ucraniano de ralis de terra, com um Mitsubishi Lancer Evo IX. Em 2019 somou quatro vitórias. No ano do início da guerra disputou apenas o Rali da Catalunha, pontuável no Europeu, com um Fiesta Rally3.

“Não é fácil organizar a logística para entrar e sair do meu país, devido à necessidade de aprovação, mas espero conseguir disputar os seis ralis que faltam”, confessa Anton, que prefere deixar para trás as dificuldades inerentes à descoberta de ralis e de classificativas num país distinto do seu. “Não me queixo! Gosto muito de Portugal, pelo que conheço até agora, e das suas classificativas de ralis. E tenho-me divertido bastante. Quando estou ao volante… estou a sorrir”, concluiu o piloto natural de Kiev, que passou a residir em Lviv desde há alguns meses, por estar mais perto da Polónia, a sua porta de saída da Ucrânia.

Vida menos agitada tem o seu navegador, Pavlo Kononov, já que decidiu fixar-se em Marbella, no sul de Espanha, onde tem atividade no setor imobiliário. “É uma zona onde há uma comunidade significativa de ucranianos, russos e letões…”, reconheceu o copiloto de Anton Korzun, também ele já um apaixonado por Portugal.

Por último, importa referir que se em Fafe, na abertura da época, a dupla ucraniana terminou no quarto lugar absoluto das 2RM, agora, no Algarve, subiu ao último lugar do pódio.