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GONÇALO HENRIQUES E A ESTREIA DE SONHO NO HYUNDAI JÚNIOR TEAM FPAK

A dupla Gonçalo Henriques/Inês Veiga alcançou o estrelado no Rallye Casinos do Algarve, na sua estreia com o Hyundai i20N Rally2 do Hyundai Júnior Team FPAK, ao conquistar a terceira posição absoluta. Foram os portugueses melhor classificados na segunda jornada do Campeonato de Portugal de Ralis (CPR), apenas superados por pilotos ex-WRC como Kris Meeke e Dani Sordo.

Aos 26 anos, e depois de ter vencido o FPAK Júnior Team de Ralis em 2022, o jovem de Vila Nova de Poiares registou uma ascensão fulgurante. Nas duas épocas seguintes no CPR sagrou-se campeão de Portugal 2RM (duas rodas motrizes) com um Renault Clio Rally4.

No primeiro “exame” aos comandos do Hyundai i20 N Rally2, Gonçalo Henriques superou largamente todas as expetativas, deixando à vista de todos o seu talento. Sem perder a humildade que o carateriza, sublinha que sente ter ainda uma grande margem de progressão para explorar o potencial do carro. Recusa o “estatuto” de nova estrela dos ralis portugueses e não esquece que ainda é mais lento 1 segundo/quilómetro que os pilotos do WRC que competem no CPR. Ficou feliz com os elogios de Meeke e de Sordo no final do rali, mas promete trabalhar para reduzir essa diferença…

– O que fez de diferente nas semanas anteriores à estreia num rali ao volante do Rally2? Preparou-se melhor fisicamente ou fez exercícios específicos, por exemplo, alterou a alimentação…

“A minha preparação para este rali foi exatamente igual à dos anteriores, por considerar que o método utilizado já era bom. Tanto a nível físico como alimentar não fiz nada, mas penso que será por aí um dos caminhos a alterar. Durante o rali não senti qualquer tipo de fadiga, porque, penso eu, o meu tipo de condução é bastante descontraído. Contudo, a verdade é que no domingo comecei a sentir algumas dores de costas e isso, provavelmente, dever-se-á à falta de uma boa condição física. Portanto, esse é um capítulo que irei mudar, começando a preparar-me nessa área”.

– A nível de “notas”, foi necessário passar as rápidas a médias… Deu muito trabalho requalificá-las?

“Não, basicamente continuam as mesmas. As minhas ‘notas’ são definidas por ângulos, que continuam os mesmos, o que muda é a velocidade a que chegamos à curva e as respetivas distâncias. Em relação a estas últimas, diminuí as de 50 para 30, pois é um número que não responde a uma distância real, mas a um valor que está na minha cabeça. As alterações foram mais nesse sentido, para além de acrescentar algumas anotações. Uso ‘notas’ de 1 a 6, entre o mais lento e o mais rápido, usando ainda mais e menos. É provável que também aí possa evoluir. Nada é perfeito e há sempre espaço para melhorar em todos os aspetos”.

“ADMITO QUE CONSIGO LIDAR BEM COM O NERVOSISMO EM MOMENTOS DE PRESSÃO”

– Um dos pontos fortes do Gonçalo Henriques é a inteligência emocional ou tem outro para lidar com a pressão?

“Por vezes sinto-me nervoso, como todas as pessoas, embora considere que lido bem com a pressão e não é habitual cometer muitos erros nessas situações. De qualquer modo, confesso que também fica difícil para mim lidar com o nervosismo, principalmente antes da última classificativa. É sempre o momento-chave, por ser a derradeira do rali e quando estamos bem posicionados e não queremos deitar tudo a perder. Há um momento para parar e pensar na forma mais inteligente de abordar esse último desafio. Foi isso que fizemos também nesse rali, mas também já senti o mesmo nas duas épocas anteriores. No cômputo geral, admito que consigo lidar bem com o nervosismo em momentos de pressão”.

– O que é que lhe disse o Dani Sordo, agora no Algarve, que mais o marcou ou reteve na mente no decurso do rali?

“No final dos testes que antecederam este rali no Algarve o Sordo disse-me que eu era um piloto rápido e eu respondi-lhe que também queria acreditar que sim. Depois, no final da prova, tanto ele como o Kris Meeke confessaram estar bastante impressionados com aquilo que eu tinha feito e que não estavam à espera que eu fosse tão rápida na estreia com o Hyundai i20 N Rally2. Para mim foram palavras muito importantes, deixando-me ainda mais motivado para continuar a trabalhar e a evoluir”.

“ESTAMOS 1 SEGUNDO POR QUILÓMETRO MAIS LENTOS QUE OS PILOTOS MUNDIALISTAS E HÁ UMA GRANDE MARGEM DE EVOLUÇÃO”

– Numa escala de 0 a 100, qual é a margem de progressão que o Gonçalo Henriques ainda tem com o Hyundai i20N Rally2?

“Só apanhei um susto no decurso do rali, penso que não por ter exagerado, mas por falta de confiança. O carro trava realmente muito bem e eu não estava habituado a esse sistema tão eficaz. Aliás, não houve uma única travagem em que nós explorássemos as capacidades do carro. Numa das situações, senti que tinha exagerado e necessitei de travar um pouco mais forte. Quando o fiz tive a perceção de que a travagem ia bloquear e tudo poderia correr mal, mas o certo é que o Hyundai quase parou antes da curva… Nesse momento, percebi que, afinal, dava para travar bastante mais tarde, quando eu imaginava já… não ter possível. Ou seja, a nossa margem de progressão é enorme, mas numa escala de 0 a100 é difícil de avaliar o que ainda será possível fazer. O certo é que estamos 1 segundo por quilómetro mais lentos que os pilotos mundialistas e, por isso, ainda há uma grande margem de evolução”.

“RECUSO CONSIDERAR-ME A NOVA ESTRELA DOS RALIS PORTUGUESES”

– Qual foi o momento-chave para si, neste rali? A primeira passagem pelo troço mais longo e aí teve a certeza de que poderia bater-se com os pilotos “mais velhos” do CPR?

“Eu nunca coloquei qualquer pressão em mim. Não tínhamos como objetivo a ‘obrigação’ de ficar em terceiro lugar, como aconteceu. Quando começou a segunda parte da última etapa sentimos que tal podia acontecer, mas temos consciência que há muito a melhorar, principalmente nas curvas médias. Há ainda falta de confiança em relação aquilo que o Hyundai i20 N Rally2 é capaz de fazer. Às vezes sucedeu entrar nas curvas e só no interior das mesmas perceber que era possível ter entrado ainda mais rápido, mas apenas com mais experiência poderemos corrigir essas hesitações. Não se pode querer tudo de uma vez, porque o caminho faz-se caminhando, como se costuma dizer, e ainda temos um percurso longo pela frente. Não podemos querer tudo de uma vez e foi importante, para além de ter conseguido este ótimo resultado final, não ter passado por situações aflitivas. Apenas sofri um susto e não foi, digamos assim, muito grande. Temos a certeza de que há uma grande margem de evolução e a confiança necessária para fazer melhor nas próximas provas”.

– Sente-se, face ao andamento no Algarve e às declarações de Kris Meeke, a nova estrela dos ralis portugueses?

“Um só rali não define aquilo que eu sou. Este correu bem, os próximos podem não acabar tão bem, mas vamos trabalhar para ser cada vez melhores, como sempre. Foi ótimo, é muito bom sentir o carinho de toda a gente e ver todos os comentários positivos que nos transmitem, mas recuso considerar-me já a nova estrela dos ralis portugueses. Temos de ter os pés bem assentes na terra, isto foi só um rali e cada um é diferente do outro, que pode não correr-nos tão bem. Só temos que agradecer à Hyundai, à FPAK, à Sports & You e a todos os patrocinadores que nos têm acompanhado”.

Créditos: https://campeonatoportugalderalis.pt/

Creditos: campeonatoportugalderalis.pt